Entrevista a Armindo Neves
Visto que estamos no final de 2009, com todos os campeonatos a estarem nas suas fases finais, nada como fazer o balanço sobre os acontecimentos deste ano. Como adeptos de Armindo Neves, não perdemos a oportunidade de lhe fazer uma entrevista e esclarecer alguns dos pontos altos e baixos da sua temporada. Por isso agradecemos a disponibilidade do Armindo e desejamos-lhe a melhor das sortes para 2010!
1ª – Em 2009 mudaste do Campeonato de Portugal de Ralis para o Campeonato Open de Ralis. A menor longevidade dos Ralis, bem como um eventual maior retorno e projecção deste campeonato terão sido essenciais para esta decisão?
A nossa aposta recaiu no Open essencialmente pela aquisição do carro que tínhamos feito, uma vez que com o Hyundai não era possível fazer o CPR. Para além disso, era um campeonato que nos atraia a todos, não só pelo número de inscritos, mas também pelo retorno que estava a ter em todos os órgãos de comunicação especializados. No final, revelou-se um campeonato bastante interessante e competitivo, como aliás já estávamos á espera, mas também demasiadamente longo e dispendioso, que é algo que, penso, vai contra a essência da sua criação.
2ª – O início desta época ficou marcado pelo teu projecto inovador, que trouxe até Portugal uma viatura bastante rara, o Hyundai Coupé Kit Car. Que balanço fazes desta tua aposta na marca coreana e que mudarias caso voltasses até ao inicio do ano? O retorno alcançado nesta aposta superou as expectativas?
O balanço só pode ser positivo, uma vez que o retorno alcançado no inicio do projecto superou todas as nossas expectativas e as dos nossos parceiros. Caso tivesse possibilidade de voltar ao inicio do ano, aquilo que faria de forma diferente e com o conhecimento que já tenho hoje, seria possivelmente ter adquirido uma maior informação técnica sobre o carro, de forma a podermos ter explorado ao máximo as suas capacidades desde o inicio e a ter evitado alguns problemas que nos condicionaram bastante o resto da época.
3ª – Tendo em conta que era uma viatura de 2RM, achas que perdeste alguma competitividade relativamente aos restantes adversários do Open que tinham apostado em viaturas 4RM? E relativamente aos teus adversários directos em 2RM?
Na fase de asfalto seguramente que não, pois penso que o Hyundai, apesar de algumas vicissitudes, era um carro ganhador nesse tipo de piso e não era de forma alguma inferior a nenhuma das viaturas presentes. Em relação à terra, estaria claramente abaixo dos 4RM, mas isso era desde a primeira hora um risco assumido. Apesar de tudo, estávamos convencidos que tínhamos todas as possibilidades de disputar a vitória nos 2RM e ficar nos 5 primeiros da geral no Open.
4ª – Relativamente ao Citroen C2 R2 que pilotaste no ano passado, como comparas o Hyundai Coupé Kit-Car?
Não há comparação possível, uma vez que o Hyundai era um verdadeiro carro de corridas, um autêntico puro sangue que dava um prazer enorme a conduzir. Apesar de andar longe da potência que toda a gente dizia que tinha, uma vez que no banco indicava apenas cerca de 215 cv, tinha um chassis e uns travões completamente fenomenais que permitiam quase tudo e faziam com que no asfalto e depois de algumas melhorias que tínhamos previsto efectuar, se tornasse um carro muito difícil de bater.
5ª – A meio da época mudaste para o Mitsubishi Lancer Evo VI. Podias explicar os motivos para tal decisão?
Tal como já expliquei atrás, o Hyundai tornou-se um carro com uns custos demasiadamente elevados para o orçamento que tínhamos para este ano, pelo que, e com o aproximar da fase de terra, e embora com muita pena minha, se decidiu em conjunto com os nossos parceiros que a melhor opção passaria por um carro que nos permitisse estar também na luta pelo pódio na fase de terra, embora abandonando o campeonato de 2RM, que aliás chegámos a liderar. Daí a opção natural pelo Mitsubishi.
6ª – Esta mudança coincidiu com a fase de Terra do Open de Ralis. Achas que o facto do Lancer ter 4RM comparativamente ao Hyundai e as suas 2RM poderá ter contribuído para melhorar ou piorar os resultados? Que balanço fazes deste fim de época?
A mudança foi com certeza arriscada, uma vez que ao longo de toda a minha carreira nunca tinha conduzido um 4RM. De qualquer maneira, volto a fazer um balanço bastante positivo, uma vez que estivemos quase sempre na disputa pelo pódio e em Penafiel conseguimos mesmo o 2º lugar da geral.
7ª – Decidiste terminar a tua época em Penafiel, não comparecendo no último Rali da época, em Gondomar. A preparação para a época de 2010 terá sido um factor para essa decisão?
Como calculas, não ir ao Rali de Gondomar, principalmente depois do bom resultado alcançado em Penafiel, foi uma decisão que me custou bastante. Mas como desde sempre que faço ralis, faço-o mediante o orçamento de que disponho, já há algum tempo que estava decidido entre todos os membros da equipa e os nossos patrocinadores que não existiam condições para estarmos presentes em Penafiel, uma vez que esta foi uma época bastante longa e muito dispendiosa. Quanto á época de 2010, é verdade que já há algum tempo que estamos a pensar nela e a ver o melhor caminho a seguir.
8ª – Finalmente, relativamente à próxima época, há algum pormenor que já possas avançar? Alguma viatura em vista?
Relativamente a 2010, aquilo que posso adiantar é que estamos a trabalhar afincadamente para regressar ao CPR, uma vez que todos nós, patrocinadores incluídos, achamos que uma época no Open afinal não sai tão barata como estávamos à espera, para além de que o calendário é completamente alucinante, não nos deixando nenhuma margem para erros. Além disso ainda temos a aliciante do rali de Portugal, o que é sempre uma mais valia e que agrada muito a todos os nossos parceiros.
Em relação à viatura a utilizar caso consigamos meter o projecto de pé, posso-te dizer que neste momento estamos a estudar várias hipóteses, que podem passar por um 4RM ou também por um 2RM bastante competitivo. Vamos aguardar para ver se tudo se concretiza.
Por último, não posso terminar sem agradecer esta entrevista e todo o trabalho desenvolvido pelo Direita3 em prol dos ralis, e agradecer também a todos os membros da nossa equipa, patrocinadores, amigos e adeptos dos ralis em geral. Um abraço e o meu obrigado para todos.
Fotografias: Armindo Cerqueira – Foto GTI