Ford GT70

O Ford GT70 teve o seu capítulo inicial no Rali de Monte Carlo de 1970. Os resultados da equipa Ford foram decepcionantes (um 5º e 7º lugar apenas, além de 2 abandonos), mostrando que o Ford Escort Twin Cam tinha sido ultrapassado pela concorrência feroz, encabeçada pelos Renault Alpine A110 e Porsche 911. Além disso, a Lancia iniciava um projecto, de seu nome Stratos, que também teria como base uma viatura com tracção traseira e motor central, para utilização nos Ralis.

Por isso, o director da Ford Motosport na época, Stuart Turner,  juntamente com Roger Clark, definiram que a próxima viatura da Ford deveria ser bastante leve, ter um motor central e tracção traseira, para que pudesse ser competitiva. No entanto, haviam bastantes opiniões discordantes no interior da marca, que insistiam no desenvolvimento de um carro mais próximo dos carros de estrada, com motor dianteiro e tracção traseira. No entanto, Stuart Turner conseguiu impor a sua ideia e obteve o financiamento para o projecto, após a aprovação de Walter Hayes (relações públicas da Ford britânica).

O carro foi desenhado por Len Bailey (tendo sido inspirado no GT40 e Ferrari Dino) e tinha um chassis em aço com uma carroçaria em fibra de vidro, suspensão de rodas independentes e uma distribuição de massa que favorecia o eixo traseiro, permitindo uma melhor tracção. Relativamente aos motores, foram lançadas várias propostas, tais como um motor BDA de 4 cilindros (o preferido) ou um 6 cilindros em V, utilizado no Ford Capri. Esta última opção acabou por ser a unidade escolhida, visto que o BDA ainda não tinha sido concluído.

Todo o projecto foi desenvolvido em total secretismo durante o resto do ano, tendo o primeiro protótipo sido terminado no final de 1970 e apresentado no Auto Show de Turim de 1971. Por essa razão, o nome dado ao protótipo foi GT70, representando o ano em que este foi projectado. Além do motor, as restantes partes mecânicas (tal como a caixa de 5 velocidades da ZF) foram aproveitadas de outros modelos da Ford, sobretudo do Ford Escort, para que fosse possível reduzir os custos de produção da viatura para patamares razoáveis.

No entanto, o projecto sofreu vários problemas. O primeiro tratou-se das alterações efectuadas aos regulamentos do Campeonato Internacional de Marcas (antecessor do Campeonato Mundial de Ralis), que tornaram o Ford GT70 inviável para utilização em competição e favoreceram a escolha do Ford Escort RS 1600 para esse efeito.

O segundo (e mais grave) problema deveu-se a uma greve de trabalhadores com duração de 2 meses, que afectou a produção das viaturas (de estrada e competição), entre as quais o Ford GT70. Com esta paragem, os lucros decresceram substancialmente, levando ao cancelamento de vários projectos, incluindo o Ford GT70.

Apesar de tudo, 6 exemplares do GT70 foram construídos e completados. Um destes chassis foi utilizado para apresentação inicial do projecto, ostentando uma carroçaria especial, feita pela Ghia S.p.A. Quanto aos outros exemplares, alguns destes foram utilizados para testes em Bagshot e Goodwood, com Roger Clark ao volante.

No entanto, estes testes também ajudaram ao cancelamento do projecto, visto que com o motor de 6 cilindros em V do Capri, a viatura apresentava peso excessivo e impossibilitava Roger Clark de igualar (quanto mais ultrapassar) os tempos do Ford Escort Twin Cam!

Quanto à competição, dois exemplares chegaram a competir em Ralis, tendo a sua primeira prova sido o Ronde Cévenole de 1971, onde problemas técnicos impediram Roger Clark de levar o GT70 ao final da prova. No Tour de France, Francois Mazet e Jean Todt também não levaram o carro ao final, após um embate com uma parede.

A Ford francesa decidiu aproveitar os exemplares da Ford britânica e utilizando um dos GT70  que tinha o apoio da BP, substituiu o motor do Capri pelo motor BDA e inscreveu a viatura no Campeonato Francês de GT (Tour Auto, disputado em circuitos e rampas), entre 1972 e 1973. O piloto escolhido para essa operação foi Guy Chasseuil mas infelizmente, o Ford GT70 não obteve grande sucesso. Em 1974, todos as viaturas foram enviadas novamente para Inglaterra, onde todas as partes mecânicas foram retiradas e as carroçarias guardadas num hangar em Boreham.

Dos 5 exemplares restantes, apenas se conhece a localização de dois deles. Um deles trata-se do Ford GT70 utilizado por Guy Chasseuil, restaurado em 2002 pela Sporting and Historic Car Engineers e a Ford Heritage Vehicle, em Poundon. No entanto, visto que o motor e a caixa de velocidades tinham sido retiradas por anteriores donos, para efeitos de restauro foram utilizadas peças oriundas de outros Ford em sua substituição. Além disso, foi instalado um motor BDA, tal como estava presente no exemplar original. Este GT70 foi apresentado na edição de 2002 do Goodwood Festival of Speed.

Quanto ao outro exemplar, encontra-se guardado num museu da Ford alemã, juntamente com outros modelos da marca, tratando-se de uma versão de estrada com motor do Capri, impecavelmente restaurado. Tendo em conta que o Lancia Stratos tinha o mesmo layout mecânico do Ford GT70 e obteve os brilhantes resultados desportivos que se conhece, não seria de estranhar que o projecto da Ford pudesse ter sido um competente rival do Lancia e quiçá ter alcançado melhores resultados que este…