499P: O regresso do Cavallino Rampante
6 Novembro 2022 - José Soares da Costa

Após uma ausência de 50 anos, a Ferrari encontra-se de regresso à Endurance ao mais alto nível. O modelo 499P, o seu novo “cavalo de batalha”, foi desenvolvido segundo os mais recentes regulamentos da classe Hypercar. Que segredos se escondem sob a esbelta carroçaria italiana? E quais as metas traçadas pela marca transalpina relativamente ao FIA WEC e 24 Horas de Le Mans?

Após a era LMP1, marcada pelos orçamentos estratosféricos e elevado desenvolvimento tecnológico, as classes Hypercar e LMDh ocupam agora o degrau mais alto da pirâmide reservada à Endurance. Os custos relativamente reduzidos (cerca de 30 milhões de euros, significativamente reduzidos face aos 80-200 milhões dos LMP1) e a menor dependência da aerodinâmica foram alguns dos principais atractivos para a adesão de novos construtores.

Para além da Toyota e o seu GR010, a Peugeot com o 9X8 e o Glickenhaus 007, um novo construtor junta-se agora à classe Hypercar: Ferrari. O simbolismo da marca transalpina (que conta com 9 vitórias à geral nas 24 Horas de Le Mans) torna-a imediatamente num “alvo a abater”, sendo uma séria candidata aos triunfos. Para atingir essa meta, a Ferrari beneficiou do know-how adquirido no competitivo mundo da Fórmula 1 (assim como parte dos seus recursos, dispensados após a introdução do tecto orçamento no “Grande Circo”) para desenvolver a sua mais recente coqueluche: o 499P.

Apesar de mais dispendiosa quando comparada com a classe LMDh, a classe Hypercar era a aposta certa para a Ferrari. Segundo Ferdinando Cannizzo, responsável máximo do projecto 499P, a possibilidade de desenvolver o novo Sport Protótipo segundo as suas necessidades, optimizando os seus mais diversos aspectos (p.ex., desenho do chassis e suspensões, integração estrutural do motor) era irresistível para a marca italiana.

Com potência combinada limitada a 670 cvs, o 499P conta com um sistema híbrido instalado no eixo dianteiro, que debitará até 268 cvs e que apenas poderá ser accionado a partir de uma velocidade pré-estabelecida. Relativamente ao motor de combustão interna, a Ferrari optou por um V6 bi-turbo com um ângulo de 120º. Esta configuração permite, por exemplo, que os dois turbos sejam instalados no topo do motor, entre as respectivas bancadas de cilindros, optimizando desta forma a instalação do mesmo. Para além disso, o motor forma parte integrante (e estrutural) do chassis do 499P, dispensando assim a instalação de uma subestrutura adicional.

Relativamente à aerodinâmica do 499P, os regulamentos da categoria Hypercar estabelecem à priori um rácio de 4:1 entre carga aerodinâmica e atrito. Deste modo, cada construtor poderá desenhar as suas viaturas, optando pelo benefício de um determinado aspecto (p.ex., velocidade de ponta) em detrimento de outro (p.ex., apoio aerodinâmico). Para além disso, dado que a dependência aerodinâmica é substancialmente menor comparativamente à classe LMP1, os construtores têm liberdade para incorporar elementos oriundos da sua assinatura estilística, sem que a competitividade das viaturas seja prejudicada.

Quanto ao programa desportivo da Ferrari, a marca de Maranello irá contar com o apoio da AF Corse para colocar no terreno um par de 499P. Dado o tempo relativamente curto de desenvolvimento e preparação do 499P, a marca italiana é cautelosa na definição dos objectivos para a próxima temporada, na qual irá competir no FIA WEC. Uma potencial campanha no IMSA estará a ser equacionada para 2024. A estreia competitiva da nova coqueluche de Maranello está agendada para o dia 17 de Março de 2023, no traçado norte-americano de Sebring.